Doença do mormo é discutida em audiência pública na Câmara
A Comissão de Mérito realizou, na noite dessa quinta-feira (28), uma audiência pública sobre o mormo, doença infectocontagiosa causada por bactéria que ataca cavalos e pode afetar, também, seres humanos. Desde o primeiro caso da doença no Rio Grande do Sul, no município de Rolante, em junho do ano passado, o produtor deve apresentar o exame de negativo para Mormo para conseguir a emissão da Guia de Transporte Animal (GTA).
O primeiro a se manifestar na audiência foi o vereador Homero Tatsch (PSDB), propositor do debate. O parlamentar demonstrou sua preocupação com a doença, que tem atingido muitos profissionais de Cachoeira do Sul. “A gravidade da enfermidade se dá por vários motivos. O primeiro é que não há vacina para combatê-la e, uma vez diagnosticado o animal como positivo, a única saída é seu sacrifício. Outra questão é que ela pode ser transmitida a humanos, com risco elevado de morte. Muitas pessoas vêm seguidamente ao nosso gabinete procurando orientações. Somente em Cachoeira, temos mais de quatro mil cavalos, que participam de rodeio, escola de equitação, lazer, terapia, turfe, entre outras atividades, e 500 profissionais envolvidos, como veterinários, transportadores, domadores de laço ou escritórios rurais. O nosso município tem uma vocação para esse tipo de criação e possui muitas atividades econômicas ligadas à criação do cavalo. A nossa intenção é, portanto, encontrar uma forma de manter as atividades ligadas ao cavalo de maneira viável, mas com segurança sanitária”.
Preocupado com o controle da doença, Homero também questionou quanto à forte fiscalização para rodeios e outras organizações e o cuidado não tão efetivo com cavalos para tração, como os carroceiros, e os que estão soltos nas vias. A veterinária Luciane Pedroso, representante da Secretaria Municipal Agricultura e Pecuária, explicou que a preocupação deve-se por eles apresentarem maior risco de contaminação. “É como se tivéssemos a gripe como a H1N1 e esses fosses o nosso grupo de risco”, exemplificou.
O presidente do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Santa Cruz, Tibicuera Almeida, por sua vez, questionou a eficácia dos exames realizados. “Para ser sincero, não acredito muito nos resultados. Eu confesso, ainda, que tenho dúvidas sobre a existência da bactéria do mormo no Rio Grande do Sul. Os testes de fixação de complemento e a maleína não são conclusivos, não dão a certeza necessária, pois eles não detectam a bactéria e sim o anticorpo. Li um estudo de São Paulo que indica a existência de 43 bactérias com similaridade genética com a do mormo. Então, em um exame positivo, teríamos 42 chances de não ser o mormo. É um percentual de menos de 3% num teste sorológico. E nós estamos sacrificando animais com percentuais baixos como esse”.
A veterinária Giovana Evangelista, fiscal estadual agropecuária da Secretaria Estadual da Agricultura e Pecuária, criticou a exposição de Tibicuera Almeida e lembrou que o teste de fixação de complemento e o exame da maleína foram utilizados pelos EUA e pela Inglaterra para erradicar a doença. “E eles conseguiram, então a gente não pode desmerecer esses exames. Além disso, não é só uma orientação da Secretaria do Rio Grande do Sul ou do Ministério da Agricultura, é uma orientação do OIE, a organização Mundial de Saúde Animal”. Giovana também reforçou a posição de que o resultado positivo do mormo para a maleína é de infecção pela bactéria do mormo. “Não é de outra bactéria. O animal que reagiu ao teste é específico do mormo”, defendeu.
O veterinário Marcos Ribeiro, do Núcleo de Cavalos Crioulos de Cachoeira do Sul, defendeu a ação conjunta para erradicar a doença. “Embora existam linhas de pensamentos diferentes do médico veterinário e do Poder Público de um lado e o do criador e laçador de outro, não podemos ter lados diferentes. Para vencermos, essa doenças, devemos todos nos unirmos”, disse, complementando: “Sabemos que a doença do mormo é muito perigosa e muitos profissionais, como os das inspetorias, estão correndo para buscar uma solução, pois essa doença não fazia parte da realidade do Estado. Quando fiz faculdade, a doença do mormo passava praticamente batida, pois o Rio Grande do Sul era considerado uma área livre. Sei que muitos criadores e laçadores estão encarando essa situação como se o Estado quisesse acabar com essa atividade, mas na verdade tem muita coisa envolvida. O mormo é um enfermidade muito grave e temos, sim, que tomar as medidas necessárias. Como chegar a esse controle é o ponto chave. Acredito que a fiscalização não deve se dar somente em eventos fechados, onde há maior concentração e onde está o grupo de risco, mas tem que se dar, também, no trânsito de cavalos, pois eu nunca vi ninguém ser atacado nos estradas e acho que esse controle é importante”, disse.